A arritmia no coração desperta apreensão e medo em quase todos os pacientes que nos procuram. Cuidando do seu coração, você terá mais tranquilidade. Afinal, o que mais acalma o coração é a informação correta sobre sua condição de saúde e saber qual o melhor caminho a seguir.
Eu sou o Dr. Glauco Bonato, eletrofisiologista. Essa especialidade médica é uma área da cardiologia dedicada exclusivamente ao cuidado de pacientes com arritmias no coração.
Esperamos que um coração normal tenha batimentos ritmados, regulares como o ponteiro do relógio, com frequência entre 50 e 100 batimentos por minuto. Chamamos de arritmia cardíaca aquele batimento do coração que não segue o ritmo considerado normal.
Existem diversos tipos de arritmias cardíacas. Muitas vezes, elas são silenciosas e oferecem risco à sua saúde ou de seus familiares. Mas isso não é motivo de pânico, já que a grande maioria das arritmias são benignas. Apenas um médico especialista é capaz de analisar corretamente cada caso após a realização de exames, como o eletrocardiograma, o holter de 24hs e o estudo eletrofisiológico. Vou lhe explicar um pouco sobre esses exames. O eletrocardiograma é simples e pode ser feito no próprio consultório. O holter de 24 horas monitoriza as batidas do coração durante um dia inteiro. O estudo eletrofisiológico é mais elaborado e identifica a arritmia cardíaca através de finos cateteres que são levados até o coração, assim como é feito no cateterismo.
Vamos começar a entender agora os 9 sinais de que seu coração possa apresentar uma arritmia.
1 - Fatores de Risco
O primeiro sinal é a presença de fatores de risco, que são problemas de saúde muito relacionados ao surgimento de arritmias cardíacas. Entre eles está o consumo de álcool. Sim, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e, principalmente, de bebidas destiladas aumenta o risco de arritmias, como a fibrilação atrial. Além do consumo de álcool, nós destacamos também o tabagismo, a pressão alta, o diabetes, a obesidade e a apneia do sono. Você deve suspeitar da apneia do sono quando roncar muito, quando o sono não for restaurador e quando tiver sonolência ao longo do dia. Fique atento a estes sinais!
2 - Tonturas
Em segundo lugar, temos um sintoma bastante sugestivo de arritmia que é a tontura. Uma forte tontura com sensação de que vai desmaiar pode ser consequência de um batimento cardíaco muito lento ou rápido demais. Consigo me lembrar de um caso em que a filha de um paciente entrou em contato comigo porque ele estava tendo vários episódios seguidos de tontura. Eu pedi a ela que o levasse ao consultório com urgência. Nós registramos batimentos muito lentos, próximos a 35 por minuto, e esse paciente necessitou implantar um marcapasso cardíaco com urgência por risco de uma parada cardíaca.
3 - Morte Súbita em Familiar Próximo
Um outro indício de que você tem risco aumentado de apresentar arritmia cardíaca é a ocorrência de morte súbita em familiar próximo com menos de 35 anos de idade. Estamos falando de uma morte inesperada, que ocorre rapidamente após o início dos sintomas, naquela pessoa que antes estava saudável. Quando isso acontece em pessoas com idade maior, a primeira causa é o infarto do miocárdio. Porém, nos jovens a principal causa é arritmia do coração. Nestes casos, a arritmia é causada por condições genéticas. Por isso, recomendamos que os familiares façam uma avaliação cardiológica para averiguar sua saúde.
4 - Alterações de Pulso Observadas no Oxímetro
Em tempos de pandemia, tornou-se comum termos em casa um aparelho de oximetria de pulso! Isso aumentou muito a percepção de arritmias. Daí vem o nosso quarto sinal: alterações de pulso observadas no oxímetro. Eu peço que tenham atenção a pulsações irregulares, batimentos que oscilam muito, batimentos lentos (abaixo de 50bpm) e à presença de falhas.
O que fazer frente a estes achados?
O ideal é procurar um cardiologista e realizar um eletrocardiograma para fazer o diagnóstico correto da arritmia.
E se essa arritmia não aparecer no eletrocardiograma naquele momento da consulta?
Seu médico pode solicitar outros exames, como o holter. Esse exame é uma monitorização dos batimentos por um longo período, habitualmente de 24 a 72h, mas pode ser estendido por períodos maiores.
5 - Palpitação
Agora vamos começar a esquentar os sinais de arritmia e o último vai surpreender muita gente! O quinto sinal de arritmia é a palpitação.
Como assim palpitação, doutor?
Palpitação é quando nós percebemos o nosso coração batendo diferente. Pode ocorrer de várias formas. A que você pode se identificar melhor é quando você sente o coração acelerado e batendo forte diante de uma emoção. Isso é uma reação normal do coração. Só que o coração pode disparar dessa mesma forma por uma arritmia, muitas vezes sem se relacionar a nenhuma emoção. Outras formas de perceber uma palpitação é quando o coração parece falhar, quando ele dá “um pulo” ou quando bate muito descompassado. Eu já presenciei histórias de várias pessoas que sentiam fortes palpitações e demoraram anos para terem seu problema diagnosticado e tratado porque suas queixas não foram valorizadas por seus parentes ou médicos. Então, se você sente palpitação é importante perseguir o diagnóstico até entender perfeitamente o que está acontecendo com seu coração!
6 - Desmaios
O desmaio é nosso sexto sinal de arritmia. E o que é o desmaio? Veja bem, desmaio é quando a pessoa de repente perde a consciência, sofre “um apagão”, e retorna sozinha à consciência em poucos minutos. Esse pode ser um sinal inclusive de que o coração está parando de bater durante alguns segundos e, sem as batidas do coração, não há fluxo de sangue para o cérebro, fazendo a pessoa desmaiar. Então, todo desmaio precisa ser muito bem investigado e pode representar uma grave ameaça à vida.
O médico especialista que você deve procurar é o cardiologista. Um sinal de que você deve dar prioridade ao atendimento médico é quando ocorrem batimentos acelerados do coração antes do desmaio. Também é importante quando o desmaio acontece sem nenhum aviso prévio, como se a tivesse uma tomada que desliga e liga novamente, provocando traumas na cabeça ou acidentes. Infelizmente, muitas pessoas passam por vários médicos antes e demoram a chegar no cardiologista. Agora você já sabe o que fazer e pode compartilhar essa informação com seus familiares!
7 - Batimentos Muito Lentos
O sétimo sinal é muito sugestivo de arritmia: os batimentos muito lentos. O que é um batimento cardíaco lento? É quando medimos uma frequência cardíaca menor que 50bpm no aparelho de medir a pressão, no oxímetro, no relógio de braço ou contando os batimentos no pulso. Se você mediu um batimento tão lento assim, deve realizar um eletrocardiograma para melhor definição da arritmia. Pode ser, inclusive, um bloqueio completo dos batimentos cardíacos, que precisa ser corrigido com o implante de marcapasso. A principal exceção a esse sinal é o atleta, que condiciona o coração a bater mais lento por causa do exercício físico. Eu mesmo já tive batimento de 42bpm quando treinava corrida regularmente. Mas imagina a situação de um idoso com essa frequência do coração? Quase sempre é um sinal de alteração nos batimentos cardíacos.
8 - Cansaço ou Falta de Ar em Repouso
Indo para o oitavo sinal de arritmia eu quero te fazer uma pergunta. Você já sentiu cansaço ou falta de ar em repouso, ou durante atividades que antes você era capaz de fazer normalmente? Isso também pode ser um sinal tanto de batimento cardíaco lento, quanto de batimentos acelerados e descompassados. Se os batimentos já são alterados e muito acelerados com a pessoa em repouso, o coração já fica sobrecarregado. Quando você exige mais um pouco dele, então, ele não dá conta do recado. Diante destes casos, nós conseguimos eliminar o cansaço ao normalizar os batimentos do coração. É muito gratificante oferecer essa qualidade de vida aos nossos pacientes.
9 - Acidente Vascular Cerebral
Por último, sendo muito importante e surpreendente, o nono sinal de arritmia é o acidente vascular cerebral, também conhecido como AVC ou derrame. Infelizmente, vemos muitas pessoas sofrerem um derrame por causa de uma arritmia que elas nem sabiam ter. Essa arritmia, quando detectada precocemente, pode ser tratada e, assim, evitar essa triste condição que afeta a vida de tantas pessoas. Nós estamos falando da fibrilação atrial, uma arritmia que pode ser silenciosa e detectada apenas por exames médicos. Ela se torna frequente quando passamos dos 60 anos e aumenta em 5x o risco de AVC. Quando detectada, o uso de medicamentos anticoagulantes evita que a arritmia leve à formação de pequenos coágulos no coração, que se deslocam e entopem a circulação de sangue no cérebro.
Assim, terminamos esse conteúdo de utilidade pública com vários alertas para identificarmos arritmias no coração!
Um forte abraço no coração!